Messi acorda no fim, mistão dá conta do recado, e Argentina pega o México
O capitão da Argentina entrou em campo para enfrentar a Grécia nesta terça-feira de uniforme azul escuro, tarja no braço esquerdo, número 10 nas costas e status de dono do time. No estádio Peter Mokaba, em Polokwane, Lionel Messi era uma cópia fiel do Maradona de 1994, que vestiu o mesmo figurino há 16 anos para fazer seu último gol em Copas, justamente contra os gregos. Com o Pibe à beira do campo, Messi não chegou a brilhar. Mas acordou nos minutos finais, acertou uma bola na trave e viu o mistão dos hermanos vencer por 2 a 0, garantindo o primeiro lugar do grupo B e o passaporte para enfrentar o México nas oitavas de final.
Os gols saíram dos pés de Demichelis – justo ele, criticado por lambanças anteriores – e Palermo, que entrou no segundo tempo. Bem marcado, Messi apanhou o jogo todo e demorou para justificar as coincidências com Maradona. Ganhou a braçadeira que vinha sendo usada por Mascherano e não chegou a repetir atuações históricas como a de seu atual técnico no Mundial do México, em 1986, com o gol de placa e a Mão de Deus que completam exatos 24 anos nesta terça. Naquela ocasião, a Argentina também jogou de azul, contra uma Inglaterra que vestia branco feito os gregos de agora.
A dois dias de completar 23 anos, Messi tornou-se o capitão mais jovem da história argentina em Mundiais, superando Passarella, que em 1978 tinha 25. Em 1986, Maradona foi o capitão com 26. O treinador cumpriu a promessa de poupar seus jogadores (só Samuel está machucado e Gutierrez suspenso) e escalou apenas quatro titulares: Messi, o goleiro Romero, o zagueiro Demichelis e o meia Verón, recuperado de lesão.
A Argentina termina a primeira fase com nove pontos, três vitórias, sete gols marcados e apenas um sofrido. No outro jogo do grupo B, Coreia do Sul e Nigéria fizeram uma disputa dramática e empataram em 2 a 2. Melhor para os coreanos, que avançam em segundo lugar, com quatro pontos, para encarar o Uruguai. Gregos, com três, e nigerianos, com um, estão fora da Copa.
O jogo
Antes de a bola rolar em Polokwane, um momento família. Carlitos Tevez, que não jogou, foi até a torcida e pegou a filha no colo. Dentro do gramado, virou a menina de cabeça para baixo, a colocou nas costas, caminhou de mãos dadas e se divertiu como se estivesse no quintal de casa.
Do outro lado, o técnico Otto Rehhagel não queria saber de brincadeira. Ainda confiante na classificação, ele não se expôs diante do time B de Don Diego: deixou Samaras solitário no ataque e armou sua retranca, com Sokratis na cola de Messi.
Se a intenção dos gregos era amarrar o jogo, o primeiro tempo foi um sucesso: pouca coisa aconteceu no gramado. Os primeiros lances de perigo só vieram aos 17 minutos, quando o goleiro Tzorvas fez duas boas defesas em chutes de Agüero (dentro da área) e Verón (fora dela).
Messi só deu as caras aos 22, quando driblou Sokratis e levou a primeira pancada do dia. Por falar em pancada, Papadopoulos levou a pior numa dividida e deixou o campo com a boca sangrando. Voltou com um gigantesco chumaço de algodão na boca.
Como a Grécia não incomodou durante todo o primeiro tempo, a Argentina resolveu agir. Tudo bem que as duas melhores chances só vieram aos 45 minutos. Primeiro com Máxi Rodriguez, que recebeu livre na área e bateu para a defesa de Tzorvas. O goleiro apareceu de novo logo em seguida, espalmando para escanteio um chute de Messi, que deu um corte seco no zagueiro e bateu de fora da área.
Na saída para o intervalo, Maradona parecia bravo. Ao contrário dos dois primeiros jogos, quando cumprimentou todos os jogadores, caminhou direto para o túnel com cara de poucos amigos.
Logo no segundo minuto da etapa final, Demichelis deixou o Pibe mais zangado ainda. Após falhar grosseiramente no gol da Coreia do Sul na rodada passada, o camisa 2 caiu sentado em disputa de bola com Samaras, que recebeu lançamento longo, passou pelo zagueiro, invadiu a área e bateu cruzado, rente à trave de Romero. Do lado de fora, Maradona só cruzava os braços.
Os gregos apostavam em Samaras contra a duvidosa defesa argentina. Mas o camisa 7 ficava sozinho na frente, recebendo chutões. Do outro lado, Messi rodava de um lado para o outro. Parecia procurar Tevez, Di Maria, Higuaín... chegou a trombar com Maxi Rodríguez, que não saiu de sua frente em uma jogada aos oito. Quatro minutos depois, o outro Rodríguez, Clemente, arriscou de longe, para fora.
A torcida argentina, maioria entre os 38.891 presentes no estádio Peter Mokaba, se empolgou. Mas os hermanos só voltaram a ter uma chance dez minutos depois. A antepenúltima de Messi. Em uma falta de longe, o camisa 10 bateu bem, e Tzorvas salvou.
O gol argentino começou a amadurecer aos 24. Verón cobrou escanteio, Demichelis raspou de cabeça, a bola ficou com Bolatti na pequena área e o volante chutou em cima do goleiro. Cinco minutos depois, uma cena digna de “Trapalhões” na defesa grega. Tzorvas chutou a bola, mas ela bateu em Moras e saiu. O goleiro ficou zangado e reclamou do posicionamento do volante.
Aos 32, enfim, o gol argentino. Messi cobrou escanteio da esquerda, e Demichelis se redimiu das lambanças. Ele cabeceou, a bola bateu no braço de Diego Milito e voltou para o zagueiro, que encheu o pé: 1 a 0, 100% de aproveitamento. A torcida pediu “vamos, vamos”, e a Argentina foi.
Messi ainda teve mais duas oportunidade. Uma aos 40, resultado de uma tabelinha com Di Maria e um chute de fora da área que explodiu na trave. Depois, aos 43, costurou de novo a defesa adversária e bateu para mais uma defesa de Tzorvas. Desta vez, a Jabulani sobrou redonda para Martin Palermo. O atacante empurrou para dentro e fechou o placar em 2 a 0. Claro, ganhou abraço e beijo do chefe. Messi não balançou a rede, mas ao menos justificou a braçadeira que carregava no braço.